Francisco Eugénio Ferreira Corvelo nasceu na freguesia de São Mateus, ilha Terceira, no dia 3 de Janeiro de 1944, filho de José Ferreira Corvelo e de Maria do Amparo Ferreira Corvelo. O pai tinha a alcunha de “Pé-de-Chita”, uma família muito conhecida na freguesia, e que contribuiu para o seu desenvolvimento. Casou na mesma freguesia, no dia 7 de dezembro de 1969, com Ana Maria Vieira Pimentel, de quem nasceram dois filhos: a Cristina (1971) e o Eugénio (1978). Faleceu no dia 2 de Novembro p.p., no Hospital da Terceira, vítima de acidente vascular cerebral (AVC). Residia na Rua do Negrito, número 12.
A Cristina casou em São Mateus e emigrou para a Nova Inglaterra, estado de Massachusetts, cidade de Falmouth, onde reside desde o princípio do século, e tem descendentes.
O Eugénio rumou ao continente português para completar os seus estudos universitários, concluindo uma licenciatura da área da Engenharia Mecânica. Se seguida, completou um Mestrado na área das energias renováveis, nomeadamente na área da energia das ondas, tendo já participado em estudos de nível internacional.
Era irmão de José Daniel Ferreira Corvelo, polémico escritor e pintor, falecido em 2005, que muitos artigos de história deixou no jornal “Diário Insular”, e no jornal de São Mateus “A Maré”, que muito contribuíram para a história de São Mateus.
Francisco Eugénio teve um percurso profissional digno e dignificante. Muito cedo ingressou no mercado do trabalho, como todos os da sua condição e época. A oficina de “Gil de Sousa”, nas Avenidas Novas, em Angra do Heroísmo, foi a sua escola na arte de tornearia e afins. Essa oficina foi mesmo uma escola profissional onde se formaram, e saíram, grandes mestres daquela área.
Aquando do 25 de abril de 1974, Francisco Eugénio trabalhava naquela oficina e as condições salariais eram muito baixas para a época, o que levou a uma greve do pessoal, em Outubro daquele ano, inserida nas lutas laborais que se desenvolviam um pouco por todo o país. Participou de uma forma muito activa e frontal nessa luta, valendo-lhe alguns “amargos de boca” para muitos anos. Foi um activista de causas sociais, debatendo-se até ao fim por aquilo em que acreditava.
Conheci o Eugénio na militância política do pós 25 de Abril. Mais tarde, depois de 1981, quando me estabeleci com uma indústria de pré-fabricados, recorri, por várias vezes, aos seus excelentes serviços de torneiro.
Perto do sismo de 1980, construiu a sua casa, na Rua do Negrito, 12, com rés-do-chão preparado para oficina. Em 1981 abriu a sua oficina de Torneiro Mecânico, começando assim uma nova e importante etapa da sua vida. Na ilha Terceira fervilhava a construção, como consequência do sismo e os pedidos de trabalho na sua oficina eram mais que muitos. Chegou a trabalhar dezasseis horas diárias, muito dias seguidos, e muitos fins de semana foram passados junto da máquina de torneiro.
O primeiro serviço executado na sua oficina foi um “ponto de mola” para o mecânico Gaspar Ivens, também de São Mateus. Entre muitos serviços efectuados, dignos de registo, contam-se duas coroas do Divino Espírito Santo colocadas sobre os Impérios dos Terreiros em São Mateus e São Bartolomeu.
No ano de 2000 suspendeu a sua actividade profissional por motivos de doença. A oficina contínua da mesma forma que a deixou, com todas as máquinas e ferramentas devidamente tratadas, prontas a laborar. A doença, um tumor na cabeça, levou-o a longos períodos de tratamento de radioterapia, efectuados no continente, com consequências graves para a sua vida emocional e financeira. Depois de um período menos bom, recuperou e foi fazendo a sua vida com alguma normalidade, embora um pouco por casa. Não foi essa grave doença que o vitimou, mas sim um AVC.
Faleceu da forma que sempre me disse que gostava de acontecer: sem penar.
Francisco Eugénio, foi um filho exemplar, um estudante primário dedicado, um marido amado e que sabia amar, um pai carinhoso e orientador, um Homem reto, íntegro e lutador, amante da leitura e do saber, um defensor da sua freguesia, um profissional competente e, acima de tudo, amigo do seu amigo que defendia até ao extremo da razão.
Perdi um amigo, que levou para o cemitério de São Mateus muitas das nossas conversas, desabafos e segredos, para onde tenciono, um dia, também levar os meus.
Descansa em Paz.
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